Cosmopoéticas do espectador selvagem

Cosmopoéticas do espectador selvagem

Artigo de Marcelo R. S. Ribeiro publicado na Significação - Revista de Cultura Audiovisual (v. 47, n. 53, 2020).

Disponível em português e em inglês.

Resumo

Com base na análise das formas cinematográficas de reconstituição da história em Serras da desordem, Corumbiara e Taego Ãwa, identifico a importância da figura dos espectadores indígenas para a compreensão das imagens que os filmes criam e mobilizam. Argumento que o contracampo efetivo, virtual ou espectral dos espectadores indígenas constitui uma figura discursiva operante nos filmes e nas relações que estabelecem com o arquivo da história. A figura do espectador selvagem desencadeia o que denomino montagem anarquívica, perturbando o ordenamento do arquivo histórico produzido pela violência do genocídio e insinuando possibilidades de criação de um mundo comum.

Palavras-chave: cinema, história, genocídios indígenas, arquivo, montagem.

Abstract

Based on the analysis of the cinematographic forms of reconstituting history in Serras da desordem, Corumbiara and Taego Ãwa, I identify the importance of the figure of indigenous spectators for understanding the images that the films create and mobilize. I argue that the effective, virtual or spectral countershot of indigenous spectators constitutes a discursive device operating in the films and in the relationship they establish with the historical archive. The device of the savage spectator triggers what I call anarchival montage, disturbing the arrangement of the historical archive produced by the violence of genocide and insinuating possibilities of creating a common world.

Keywords: film, history, indigenous genocides, archive, montage.

Captura de tela do filme Taego Ãwa, na qual se vê uma menina olhando para fora do enquadramento, em direção ao lado esquerdo da imagem, que no filme é o espaço em que se encontra uma televisão

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